Bergson Araujo, Caio Cysne e Isadora Lima
Neste especial, conversamos com três pessoas de religiões diferentes para abordar as várias perspectivas espirituais em que lidamos com a morte.
Apesar do tema recorrente, muitas pessoas encaram o assunto como tabu. Mas a partir da visão de crenças espirituais, alguns indivíduos encontram conforto para lidar com o assunto. Por isso, pensamos em trazer o especial “A morte pela visão da espiritualidade” para apresentar como as crenças enxergam esse acontecimento da vida.
CANDOMBLÉ / UMBANDA
Falamos com o Pai Pequeno do terreiro Mão Cassiana, localizado na cidade de Caucaia. Ari Júnior vive a religião desde que nasceu, agora aos 23 anos formado em biotecnologia, cuida do terreiro de sua comunidade. Por conta do sincretismo religioso existente no processo de formação do país muitos umbandistas declaram-se também do candomblé, apesar de existirem diferenças nas manifestações espirituais. No vídeo a seguir, Ari explica como é a visão da morte das duas religiões, quais os rituais e sentimentos que envolvem a passagem para a vida pós-morte.
ALDEIA MARATOAN
Na entrevista a seguir, conversamos com a liderança indígena do povo Kariri da aldeia Maratoan, Luciano Kariri, em Crateús. A partir da visão de sua aldeia indígena, Luciano explica os processos de crença dos ancestrais da terra e qual a visão de força que as entidades criadoras possuem para os indivíduos. Principalmente, no processo de proteção espiritual em que os indígenas passam devido aos constantes ataques aos seus direitos de existência sofridos nos últimos 500 anos.
Epílogos: Como os indígenas tratam o tema da morte?
LK: A morte é o princípio da vida. Nossos antepassados repassam que a morte é o seguimento da vida. Eles colocavam nas escrituras para os parentes das tribos, das aldeias que a vida é uma passagem do espírito pela matéria mas que logo após a morte existe um local ancestral, onde nossos antepassados se encontram e esperam os parentes que estão entrando em outro ciclo de vida. A morte para os indígenas é a busca pelo paraíso para que possamos encontrar nossos ancestrais e dar continuidade através da espiritualidade o seguimento da nossa cultura. A morte para nós não é diferente de outras religiões. Nossos ancestrais contam que a morte é o caminho da salvação, para que a gente se redima dos pecados e encontre a paz do paraíso dos nossos ancestrais; dos nossos troncos velhos onde eles estão nos esperando.
Epílogos: Qual o papel dos ancestrais para guiar as pessoas em vida?
LK: Em nossas reuniões, em nosso toré, a gente sempre pede força a nossos ancestrais. A gente pede a eles, a força para combater as adversidades da vida já que o índio está sempre defendendo algo no país em que não temos nossos direitos respeitados. Então sempre pedimos força e energias positivas ao paraíso ancestral, pedimos na matéria a força espiritual em luta pela defesa dos nossos direitos. A espiritualidade indígena é um pouco de alimento. A morte pode nos causar tristeza, mas também nos traz força através dos nossos antepassados. Por isso, pedimos força e coragem para a gente nunca abaixar nossa cabeça para defender nossos direitos. Já que temos a crença nesse paraíso ancestral para nos defender.
Epílogos: Como a morte está envolvida nas ações da aldeia?
LK: A morte está envolvida no nosso meio em todas as ações, seja no ritual, no plantio, no casamento, na caça, nos lutos. Tudo aquilo que é desenvolvido dentro de uma aldeia a morte tem relação, já que ela vem das crenças dos nossos ancestrais; então a morte está envolvida em todas as atividades de uma aldeia.
Epílogos: Você comentou como as entidades são os guias para os indígenas tanto na vida quanto na morte, qual é a origem do surgimento delas?
LK: Nossos povos indígenas acreditam em entidades, que há muitos anos são contadas pelos nossos ancestrais, troncos velhos. Imonan e Imaiara, são identificados na origem indígena como a origem do universo que essas entidades são associadas a tupã e ao lado do divino estão associados a criação do mundo e também acreditavam na vida pós-morte. Então a morte é uma continuidade da vida, é uma passagem para a vida eterna para a ancestralidade para o paraíso dos ancestrais, temos nossa pajé que tem 83 anos de idade, a cacique tem 65 anos, são anciãs, além delas temos outros anciões. Nos nossos momentos de rituais colocamos em prática o desejo de poder viver muito para que a gente consiga transformar nossa aldeia. Também deixando em prática para que quando a morte chegar a gente possa ser recebido no paraíso pelos nossos ancestrais e pelas nossas lutas desenvolvidas na matéria.
Epílogos: Como você enxerga a crença indígena? Assemelha-se a crenças religiosas como catolicismo?
LK: Na atualidade a gente trata a espiritualidade de uma forma pacífica, nós vivemos em um país democrático, em que a crença indígena está envolvida em várias outras religiões, como católica, evangélica. É complicado ainda nas aldeias em convencer que devemos mudar a nossa forma de viver, o que a gente aprendeu pelos nossos ancestrais. Mas estamos em uma área urbana onde existem várias religiões. Nós somos indígenas pela espiritualidade mas também fazemos parte da Igreja Católica, pois frequentamos a Igreja por conta das festas. Mas a Igreja Católica foi uma das peças fundamentais para o desenvolvimento da luta indígena em Crateús. A Igreja foi uma apoiadora na defesa desses direitos, que com muita luta nossos troncos velhos fizeram força com a Igreja e trouxeram antropólogos para detectar a cultura indígena na região de Crateús.
Epílogos: Existem diferentes tipos de crenças entre as aldeias, como é a visão de morte a que os antepassados da Aldeia Maratuan contam?
LK: Os antepassados contavam para nós que as tribos viviam em guerra por conta das diferentes crenças e os índios acabavam não aceitando e isso trazia a morte, por que? porque cada aldeia tinha um ritual diferente, como por exemplo os canibais. Através disso os antepassados acreditam que foram amaldiçoados por conta das outras vivências dos índios que causavam a morte. Através disso decidiram que a morte era apenas um princípio da vida e que o tempo as tribos iriam se unir em busca de defesa. Quando os antepassados falavam da destruição do mundo era por conta das tribos que viviam em guerra por acreditar em outras espiritualidades. Os rituais diferentes das aldeias que causavam guerras e mortes é o que os espíritos pregavam que é a destruição do mundo.
Epílogos: Até hoje a invasão portuguesa ameaça a existência indígena...
LK: Quando os índios foram evangelizados pelos portugueses e violaram os direitos indígenas, violaram as terras e riquezas. Fizeram muitas práticas que fizeram o índio sair em retirada, assim os parentes indígenas tiveram que se deslocar para fugir das garras dos holandeses e portugueses, então isso tudo trouxe a morte para nosso povo. Então tudo isso é o principio da morte, já que é uma realidade vivenciada nos povos tradicionais a mundo tempo, desde o tempo da invasão, dos direitos saqueados, a crença forçada que os indígenas defendem o direito a espiritualidade. A morte faz parte do cotidiano, já está no meio de nós a muito tempo, não só por que é uma coisa natural mas também pelo processo de luta indígena.
Epílogos: Como vocês lidam com a questão do luto? Vocês fazem o ritual de enterro baseado no cristianismo já que existe essa grande influência da religião?
LK: Nós indígenas da área urbana é feito pela crença católica, como uma forma de vivencia em que aprendemos a viver a partir do momento que a cidade chegou a aldeia. Quando morre um parente indígena a gente sempre pede a autonomia para ele para fazer o ritual, cantar os cantos sagrados, a família dando ciência a gente pede força aos espíritos de luz aos nossos ancestrais e faz o ritual para o parente que fez a passagem.
ESPIRITISMO
Para finalizar o especial, batemos um papo com Carlos Eduardo, espírita e médium. Ele respondeu algumas perguntas que centram a vida pós-morte das pessoas, como é a relação da alma após a passagem, reencarnação e os processos espirituais de cura em relação ao luto.
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